Em Alexânia, pequena cidade de Goiás, a 90 quilômetros de Brasília, um julgamento no Tribunal do Júri, que começou na manhã da última quinta-feira (5/4), teve de ser suspenso por quase uma hora porque um dos jurados – achando que “seria coisa rápida” – não mencionou ao juiz Leonardo Bordini que iria se casar no civil naquele mesmo dia, às 16 horas, no cartório ao lado do foro.
Os júris populares, como se sabe, não têm hora para acabar. E enquanto durem, os jurados são mantidos incomunicáveis, conforme exige o Código de Processo Penal. Se tiverem algum compromisso ou problema de saúde, os jurados sorteados têm de pedir dispensa no momento do sorteio.
O noivo, Diego Felipe dos Santos, que é fiscal de caixa de supermercado de Alexânia, explicou – conforme relato do Centro de Comunicação Social do TJGO – que ficou “lisongeado” por ter sido sorteado e convocado, achou que o julgamento, marcado para começar às 8h30, deveria terminar, no máximo, na hora do almoço. Mas por volta do meio-dia, ele começou a se preocupar com a hora do casamento. Feitos os juramentos e iniciadas as interlocutórias, quando o magistrado se preparava para instruir o feito, Diego então pediu uma intervenção e perguntou ao juiz a que horas o julgamento terminaria porque ele iria se casar.
“Eu fiquei sem reação”, afirmou o magistrado, que nunca tinha visto um caso parecido antes. “Diante de um compromisso tão importante, se ele tivesse dito logo no começo, teria sido dispensado”, relatou o juiz Leonardo Bordini, que tentou resolver o problema da melhor maneira possível, ouvindo o advogado da defesa, Sérgio Miranda, e o promotor de Justiça, Stive Gonçalves Vasconcelos.
Sugeriu-se então casar o noivo jurado num outro dia, mas, os casamentos na cidade são realizados apenas às quintas-feiras. E alguém, finalmente, lembrou-se da noiva e dos preparativos que ela deveria ter feito, além de sua decepção, caso a solenidade precisasse ser adiada. Também cogitou-se levar o escrivão até o foro, mas o Livro de Registros não poderia ser retirado do local. O noivo foi então levado ao cartório por um oficial de justiça para que a regra da incomunicabilidade fosse observada sem qualquer dúvida.
“Cheguei a pensar que ele estivesse brincando comigo”, contou a noiva, Joyce de Souza, estupefata ao receber o telefonema do noivo que, por sua vez, chegou desarrumado para o casamento. “Quando entrei, percebi que todos estavam limpos e bem-vestidos, e eu com a roupa que saí de casa pela manhã”. A cerimônia durou apenas o intervalo para lanche do júri, graças à intervenção do juiz Leonardo Bordini, que pediu ao escrivão para apressar o casório.
Para o juiz Leonardo Bordini, o episódio inusitado revela o comprometimento dos jurados com sua função. “Tem 20 anos que estou na esfera criminal e nunca vi nada parecido”, disse o advogado Sérgio Miranda, para quem o juiz “teve muita sensibilidade na condução do caso”.
O julgamento só terminou por volta das 4 horas da madrugada do dia seguinte. A lua de mel, contudo, foi garantida, ainda segundo o relato da assessoria de comunicação do TJGO. Diego e Joyce ficam até sábado em João Pessoa (PB). Ela não sabe, mas o júri mais longo da história do Brasil durou 34 dias, prazo em que foi analisada a culpa dos acusados de sequestrar e matar o menino Evandro, de 6 anos, em 1992, na cidade litorânea de Guaratuba, no Paraná.
Por Luiz Orlando Carneiro
Fonte: www.jota.info