O advogado criticou o atual sistema de certificação digital do ITI e afirmou que o desafio para notários e registradores é o de transportar a fé pública para o meio digital
Aracaju (SE) – Com o tema Os Cartórios e a Transformação Digital, o sexto painel do XXI Congresso Brasileiro de Direito Notarial e de Registro contou com a apresentação do advogado e professor de Direito da Informática da Faculdade de Direito da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), Ronaldo Lemos.
Para abrir sua palestra, Lemos falou sobre a importância da coleta de dados nos dias atuais. Segundo ele, a sociedade vive um momento em que a informação é essencial para entender e atender melhor os consumidores.
“A Target é uma loja de departamento americana. E com base na coleta de dados, ela passou a mandar propagandas para um casal sobre gravidez, mas eles não estavam esperando um filho. Então eles reclamaram sobre o conteúdo. Mas o casal acabou descobrindo que na verdade as propagandas eram direcionadas para sua filha de 14 anos, que realmente estava grávida. Ou seja, a Target, por meio da análise dos dados de compras da adolescente, descobriu antes dos pais que a garota estava grávida. Esse é um bom exemplo de como a coleta de dados tem sido utilizada nos dias atuais”, afirmou ele.
Para exemplificar ainda mais a questão, Lemos apresentou o Projeto Expresso do Futuro, em que ele filmou uma série de conteúdos para o programa Fantástico (Rede Globo), mostrando como a China conseguiu implementar a inteligência artificial em todos os seus negócios, fazendo com que o país se tornasse um dos mais tecnológicos do mundo.
“Eu passei quatro meses na China e tive a oportunidade de conhecer muito a fundo o que está acontecendo no país. A China era muito pobre na década de 70, e hoje conseguiu um processo de renovação muito profundo por meio do uso da tecnologia. Eu visitei a cidade de Shenzhen, onde são fabricados 80% dos celulares do planeta. Também visitei mercados e até áreas rurais que estão transformados pelo uso da tecnologia. O país se digitalizou”, afirmou ele.
Ainda em sua apresentação, Ronaldo Lemos criticou o sistema de certificação brasileiro. “No mundo complexo em que a gente está vivendo hoje, quem criar melhores sistemas de certificação, ganha em mercado. Na China, por exemplo, tudo é certificado. E dentro da sociedade brasileira existe uma explosão da demanda dos processos da certificação que apesar de ser muito importante, não está sendo atendida. E o sistema de certificação digital do Instituto Nacional de Tecnologia da Informação (ITI) não vai atender a essa demanda. A experiência do usuário é essencial nesse processo e dentro da certificação digital do ITI, a experiência é péssima. É essencial pensar no desenvolvimento de um sistema mais simples”, afirmou ele.
Questionado sobre o como cartórios podem participar desse processo, Lemos respondeu que os serviços notariais podem ser parte do futuro, mas que será necessário entender as necessidades do usuário. “O mundo nunca precisou tanto de fé pública e certificação como precisa hoje. Então, existe uma demanda ainda não atendida e que pode ser solucionada de diversas formas. Na minha percepção, vocês precisam trabalhar a experiência do usuário. Hoje, o cliente do cartório enxerga esse serviço como algo difícil de ser utilizado. O sistema notarial tem fé pública, ele gera presunção de autenticidade. O desafio é transportar a fé pública para o meio digital. Existe um salto a ser dado e se vocês não realizarem ele, outras empresas irão fazer”, concluiu Lemos.
Fonte: Assessoria de imprensa Anoreg/BR
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